sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Buchinho espumante

Esta é uma receita que rende bastante, no sentido literal do termo.
Foi inventada na casa da Simone, pela empregada dela.
A família dessa minha amiga adora buchinho de boi, cozido com cebola, colorante, temperos e servido com fatias de pão. Tira-gosto muito apreciado no Leste de Minas.
A empregada nova da casa tanto insistiu que gostaria de preparar a iguaria que mãe da Simone não teve saída a não ser deixar. Pior, dia em que o marido levaria alguns amigos para assistirem ao jogo (Democrata x Cruzeiro).
Contou-me essa amiga que tudo ia bem, quando, de repente, a moça soltou um grito na cozinha. Todos correram para ver o que tinha acontecido.
A válvula da panela de pressão voara pelos ares e por todas as bordas possíveis escapava muita espuma. Desligaram o fogo, esperaram um pouco, abriram a panela e não descobriram o que tinha acontecido. A mãe da Simone não entendeu como o buchinho espumara tanto, mas como estava saboroso, sem indicação de estragado, serviu assim mesmo. Todos comeram até se fartarem.
Mais tarde, a dona da casa foi ajudar a empregada com a louça. Ao virar o detergente sobre a bucha ela percebeu algo estranho no produto e ao passar a bucha no prato, a vasilha ficou emplastada de gordura. Era o vidro de óleo que estava no lugar do detergente. Não demorou muito para a mãe da Simone descobrir onde estava o vidro de detergente...
Ao confirmar suas suspeitas chamou a moça e mostrou a causa da espumeira do buchinho. A empregada respondeu:
- Eu nunca consegui identificar direito qual é qual. Bem que a senhora poderia comprar óleo de soja em lata, né!
- Bem que a senhora poderia ler as embalagens quando tiver dúvidas - retrucou a patroa.
- Não me dô bem com as letras não, madame!
- Você não sabe ler?
- Não! Mal, mal, assinar meu nome.
- Como fez no outro dia em que lhe mandei dar tylenol para o Marquinhos - quis saber a patroa se referindo ao neto.
- Tylenol não é sempre o da caixa vermelha????
Quer mais?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Sai desse corpo, capeta!

Quem leu as primeiras histórias desse blog já conhece a Irene, empregada doméstica da minha mãe quando ainda era pequenininha, lá em Valadares. Segue mais uma de suas proezas.
Setembro de 1982. Meu pai está em BH para complicado tratamento médico. Minha mãe o acompanha. Em casa, ficamos eu (13 anos), meu irmão (15 anos), meu primo que morava conosco (19 anos) e Irene (20 e poucos anos cronológicos e 7 anos mentais).
Meu único e adorado irmão Freed, que usa aparelho móvel nos dentes, resolve pregar um susto na Irene. Entra para o meu quarto, coloca o aparelho em pé na boca aberta, como se fosse um suporte entre os lábios, dobra para fora as pálpebras do olho e acende um a vela bem diante do rosto.
A figura demoníaca espera por Irene.
Irene entra.
Escutamos um grito.
Irene passa correndo na sala em direção à cozinha.
Atrás meu irmão assombrado.
Eu rolo de rir no chão.
Volta meu irmão correndo e gritando.
Atrás a Irene com uma faca na mão.
Ela grita: "Sai, sai, sai capeta desse corpo que não te pertence"... "Sai..."
Enquanto os vizinhos detêm a mulher, meu irmão retorna "normal".
Ela acalma-se e sorri.
Então brada como se pregasse no alto da montanha: "Na casa que eu comando, o diabo não faz graça!".
Na época imaginamos que ela quisesse dar uma lição no meu irmão fazendo-se de doida, mas soubemos mais tarde que ela acreditava mesmo ter espantado o capeta do corpo dele. Chegou a contar a história em Vermelho Velho, localidade onde nasceu, foi criada e one vive até hoje com marido e três filhos. Contam por lá que ela até pensou em montar uma igreja...

sábado, 3 de novembro de 2007

Só quero cheiro de limpeza!

Cheiro. Esta é uma questão bem pessoal.
Particularmente, acho que cheiro de limpeza é cheiro de nada. Um ambiente limpo não precisa cheirar pinho, lavanda, maçã verde, laranja e nenhuma outra fruta cítrica.
O problema é que 10 em cada 10 empregadas domésticas lançam mão dos produtos de limpeza cheirosos para esconder odores ou dar a impressão de que a casa está muito limpa.
Preste atenção. Se você entrar em casa e não sentir cheiro de produto nenhum, certamente vai olhar com mais atenção para chão, janelas, móveis e ver se estão limpos. Já quando entramos e sentimos aquele cheirinho de produto de limpeza, aí pensamos, "como a casa está limpinha", sem ao menos passar um olhar raio-x para os cantos, janelas, tapetes, etc.
Hoje, a Cida estava limpando o chão e de repente um cheiro de desinfetante invadiu minhas narinas. Perguntei:
- O que você está usando no chão?
- Desinfetante.
- Para quê?
- Para dar um cheiro.
Então mandei que suspendesse a técnica. Meu piso é de porcelanato rústico e agradece apenas o uso de detergente neutro.
Aliás, quem der uma conferida nos sites dos fabricantes de cerâmica, porcelanatos e louças para banheiros e cozinhas perceberá que a maioria pede que se use apenas detergente neutro para se manter o brilho das peças.
Na minha casa, desde a reforma, banheiros, cozinha e pisos frios (cerâmica e granito) são lavados exclusivamente com detergente neutro. Os desifetantes são usados apenas nos ralos e dentro do vaso sanitário após a lavagem, mesmo assim em pouca quantidade. Água sanitária? Nem pensar! Além de tirar o brilho da cerâmica, cromados e outras peças, provoca o desgaste prematuro dos rejuntes.

Dica:

Se a sua empregada adora cheiros e produtos de limpeza, dificilmente ela vai ouví-la e sempre que você estiver ausente ela vai usar esses produtos onde você menos recomenda. Se você não quer entrar em atrito constante com ela, evite comprá-los em grandes quantidades e explique isso a ela. Diga-lhe que está comprando desinfetante o suficiente apenas para usar nos ralos e vasos sanitários, sabão em pó e água sanitária apenas para lavar roupas e que o restante deve ser limpo com detergente neutro. Além de garantir a conservação de sua casa, você vai economizar no supermercado.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Na medida da travessa

Dimensionar comida não é tarefa fácil, eu reconheço, mas algumas ajudantes do lar são extremistas, ou a refeição que preparam é sempre insuficiente ou fazem quantidades para atender um batalhão.
Pergunto-me porque elas nem tentam, mesmo que pelos erros e acertos, aprender quantas medidas de arroz cru são necessárias para o consumo da família e quantos tomates e bifes bastam? Acho que isso me incomoda tanto porque abomino, na mesma proporção, desperdício e merreca de comida à mesa.
Tive uma empregada que logo que chegou à minha casa cortou em bifes e grelhou um filé inteirinho! Isso mesmo! Quando vi aquela montanha de carne à mesa quase tive um troço. Ela tentou me acalmar dizendo que se sobrasse era bom que o almoço do dia seguinte estava adiantado. Briguei tanto que a moça nunca mais cometeu o mesmo erro, ou melhor, com os bifes, porque o arroz sempre foi feito em dobro, para evitar trabalho no próximo almoço.
Pior era a ajudante da Nagel Medeiros, jornalista e grande amiga minha. Ela dimensionava a comida a ser preparada conforme o tamanho da travessa que usaria. Se queria usar certo vasilhame grande, enchia-o até à borda de comida, mesmo que só fossem comer a minha amiga e o marido dela. Da mesma forma, se a mulher queria usar uma travessa menor, fazia apenas o suficiente para ocupar a vasilha, mesmo que dez pessoas viessem para o jantar...

Dica:
Um copo americano de arroz cru (até à linha)é suficiente para um adulto que come bem. Se for criança ou adulto que come menos, conte meio copo americano de arroz cru por pessoa. Essa medida costuma dar certo, não falta, nem sobra.

Para mensurar o feijão, conte um copo americano do grão para cada duas pessoas.

Batata - conte uma média por adulto e uma pequena por criança.

Tomate - Um tomate salada para cada duas pessoas é suficiente, podendo até sobrar.

Carne - aposte nos 250 gramas por adulto e 100 gramas por criança.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Caso de amor com o telefone

Eu queria entender o que o telefone tem de tão especial para exercer tamanha atração sobre nossas ajudantes do lar. Dez em cada dez amigas com as quais converso, escuto a mesma reclamação: "A moça é boazinha, mas não desgruda do telefone!"
Particularmente, não sei o que me irrita mais quando minha ajudante dependura no telefone: o fato de manter minha linha ocupada, de negligenciar o serviço para conversar com as amigas, de inflacionar a conta telefônica ou de não entender que a casa é um local de trabalho.
Entre 2003 e 2006 eu tive uma auxiliar da qual ainda gosto muito. Eu e a Glória somos até comadres, pois me convidou para ser madrinha do Tiago, filho que teve enquanto trabalhava comigo.
É uma ótima pessoa, mas não pode ver um telefone. Logo nos primeiros dias na minha casa, ela lavou todo o banheiro enquanto conversava com uma amiga ao telefone. Para isso, segurava o handset (sem fio) entre o ombro e o ouvido. No final do dia, reclamou uma dor terrível no pescoço e não sabia o que era.
Mas, a melhor situação vivenciada com ela foi o dia que, na hora do almoço, parou de servir a mesa para atender o celular dela. Como estávamos com pressa, continuei o trabalho dela. Uns 10 minutos depois, ela ainda no celular, a família almoçando, o telefone fixo da nossa casa tocou. Era outra amiga querendo falar com a Glória. Meu marido não se fez de rogado:
- A patroa está ocupada no telefone celular, mas se você quiser deixar recado eu anoto...
Até a Glória percebeu que tinha passado da conta.

Lições:
- Quando contratar uma empregada doméstica, deixe claro se ela poderá usar o telefone da sua casa por motivos particulares, seja para discar ou receber chamadas.
- Se você for autorizar que ela telefone, informe por escrito (com assinatura dela consentindo) que as chamadas originadas de seu aparelho serão descontadas do salário dela. Isso agora é fácil, já que todas as operadoras são obrigadas a discriminar chamadas locais, para telefone celular e interurbanos.
- Informe se você aceitará chamadas a cobrar de amigos ou familiares delas. Se puder evitar essa prática, melhor.
- Evite ficar em cima do muro dizendo que ela pode usar o telefone quando necessário, porque poucas sabem distinguir essa diferença.
- Deixar as regras claras no início é mais fácil do que cortar o mal depois que ele se instalar. E por mais boazinha que você for, se a sua ajudante for abusada, você não vai dar conta...

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Seja clara!

Após um ano de muito trabalho, em casa com a empregada nova, e na empresa, com vários projetos que lhe consumiram todas as energias, a patroa resolveu parar um mês inteiro. Achou por bem combinar suas férias com as da ajudante do lar e apenas comunicou o fato à moça. Aliás, no último ano ela mal tinha tido tempo de conversar com a funcionária, tamanho era o volume de trabalho.
Todos saíram de férias, a moça assinou uma papelada danada, pegou o dinheiro e partiu. Passados os 30 dias, a patroa voltou, mas a empregada não. A mulher imaginou que fosse algum mal-entendido em relação às datas de retorno e foi conferir os recibos de férias. Estava tudo lá. A moça tinha que ter voltado naquele dia. A patroa então pensou que pudesse ser algum problema com ônibus, saúde, etc e resolveu aguardar mais um dia.
Passados três dias, perdeu a paciência e ligou para a casa da moça. A mãe atendeu e e informou que ela estava no trabalho. A patroa insistiu que não, ela não tinha aparecido ainda e a família esperava por ela, assim como pilhas de roupas para lavar e passar...
- Ela tá no emprego novo! - informou a mãe da moça.
- Como? Ela arrumou outro emprego sem me avisar? - gritou a patroa.
- Mas doutora, a senhora dispensou ela! - retrucou a mãe com simplicidade.
- Não dispensei, não.
- Dispensou sim. Saiu de férias e mandou ela pra casa.
- Mas ela também estava de férias! - esbravejou a patroa.
- E pobre tem direito a férias, dona? A senhora acha que ela ia ficar o mês inteiro parada, sem trabalhar? Quando o dinheiro do acerto acabasse o que ela ia fazer?
- Que dinheiro do acerto? - questionou a "doutora".
- Aquela bolada toda que a senhora pagou. Sei que pagou aquilo tudo para ela não reclamar que a senhora nem deu aviso, mas vai acabar um dia né...
- Mas, minha senhora, aquele dinheiro todo era o adiantamento de férias!
- Adiantamento? Então ela ainda tá devendo a senhora? - gritou do outro lado a mãe zelosa.
A patroa procurou se acalmar e explicou para a mulher as leis referentes às férias. Por fim, questionou:
- Ela não leu nada do que assinou?
- Claro que não! Ela só sabe ler o nome dela, nada mais.

Lição:

Não custa nada explicar tudo o que está escrito nos documentos e perguntar várias vezes se existem dúvidas. Por vergonha de não saber ler ou não entender dos próprios direitos, sua funcionária pode desaparecer da noite para o dia.

O barato que sai caro

Outra amiga contratou uma empregada doméstica, com a qual acertou verbalmente que o salário registrado na carteira de trabalho seria um e o pago efetivamente seria 1/3 maior. Com essa estratégia, minha colega evitava recolher o INSS sobre o valor global, aliviando o bolso dela e também a da funcionária.
Passaram-se cinco anos e patroa e empregada discutiram feio. O motivo nem me lembro mais. Minha amiga "acertou as contas" com base no valor acordado verbalmente e registrou tudo em documento. Você já consegue imaginar o que aconteceu?
Dois meses após a saída da moça, minha amiga recebeu a notificação da Justiça do Trabalho para depor em processo movido pela ex-funcionária. Claro, perdeu e teve que pagar tudo de uma só vez.
Pior do que isso foi pagar uma multa por reter e consumir com a carteira de trabalho da ex-funcionária. Mentira que a empregada inventou para o advogado e o juiz. Mesmo sem testemunhas sobre o fato, minha amiga amargou um prejuízo enorme.
Não caia na tentação de aceitar acordos verbais que contrariam a lei. Seja correta, cumpra seus deveres como patroa e faça valer seus direitos. Até mesmo aquela que foi sua babá na infância corre o risco de "levá-la no pau".
Eu uso um software que baixei da Internet que não nos deixa cometer esses delizes. Trata-se do Domestic. Tem uma versão gratuita mais simples e outra paga mais complexa.

Lição:

Após registrar o contrato de trabalho na carteira, é importante devolver o documento e pedir ao funcionário que assine, imediatamente, o recibo de devolução!

domingo, 14 de outubro de 2007

"Compenso"

Minha amiga foi contratar uma empregada e durante a entrevista perguntou:
- Qual o salário que você gostaria de receber?
- Depende - disse a moça, um tanto lacônica.
- Depende de quê? - quis saber minha amiga.
- A senhora vai querer "compenso" ou "sempenso"?
A futura patroa arregalou os olhos pensando: "Que diabo de 'compenso' é esse?". "Será que vai querer compensação de alguma coisa?". Então voltou-se para a moça e quis saber:
- Eu não entendi...
- Seguinte. Se você for dizer tudo o que tenho que fazer, tim-tim por tim-tim, então é mais barato. Agora, se for "COM PENSO", se eu tiver que pensar o que limpar em qual dia, qual comida fazer, aí é mais caro...
Minha amiga dispensou a futura ajudante.

Lição:
Por mais desesperada que você esteja para contratar uma secretária do lar, nem tente apostar em alguém que quer cobrar mais caro para ter que pensar. Boa vontade em aprender e acertar é característica indispensável.

Mea culpa

Se alguém parou por aqui antes para ler as histórias entre empregas e patroas deve estar muito bravo comigo, afinal, postei duas histórias e sumi. É, ainda estou aprendendo a dinâmica dos blogs e, principalmente, incluindo-a na minha rotina. Prometo que serei mais assídua!

Algumas pessoas me perguntaram porque decidi escrever sobre empregadas domésticas. Por favor, não tenho nada contra elas, ao contrário, não vivo sem elas. Minha intenção é transmitir uma pouco da minha pequena experiência para quem está começando nessa empreitada. E, claro, aprender a encarar com humor as situações malucas que vivemos na relação de amigas e inimigas íntimas com essas profissionais.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Esperta!!!

Minha primeira lembrança de empregada doméstica é da Irene, moça que minha mãe trouxe do interior para morar em nossa casa, ajudar nos afazeres domésticos e, de quebra, estudar. Além de todas as dificuldades que apresentava, a moça se achava muito esperta! Já dizia meu avô que o orgulho emburrece.
Minha mãe, pacientíssima, tentava ensinar as tarefas do nosso lar à moça. Casa velha, simples, comidinha básica (arroz, feijão, salada, verduras e couve), só não aprendia quem não quisesse. Meu pai, viajante que era, não vivenciava os deslizes da Irene, por isso achava que estávamos exagerando ao lhe contar as peripécias de cada semana.
Um dia, ele recorreu à funcionária para ter acesso ao Jornal do Brasil, sua leitura preferida. Deu-lhe o equivalente a R$ 50,00 hoje para que fosse à banca comprar o exemplar. Recomendou muito cuidado com o troco. Lá se foi a moça e cá ficou minha mãe repreendendo meu pai por permitir que ela saísse com tanto dinheiro.
Cerca de 40 minutos depois ela retornou. Quando apontou na esquina, eu e meu irmãos, molecotes ainda (os pré-adolescentes de hoje), percebemos que algo tinha dado muito errado. Ela carregava uma pilha de jornais na cabeça. Assim que adentrou na sala, jogou os jornais aos pés do meu pai e disse toda orgulhosa:
- Eu sei que vocês acham que sou boba, mas não sou. Ouvi o dono da banca comentar com outro cliente que o jornal vai subir de preço amanhã, então comprei todos que ele tinha para o senhor economizar!

Lição:

Explicar nos mínimos detalhes como as coisas funcionam não é exagero.

Prato do dia: escondidinho

O nome parece feito sob medida para alguma iguaria que concorre ao Comida di Buteco. Se você não conhece Belo Horizonte, tenho que explicar que se trata de um festival gastronômico do qual só participam butequins da capital mineira. Além de agradar ao paladar dos jurados, o prato também deve ter nome criativo.
Mas, o caso em questão aconteceu muito antes do festival ser criado, para ser precisa há uns 15 anos e a 320 Km de Belo Horizonte. Lá em Governador Valadares, Irene, a moça que minha mãe trouxe do interior para trabalhar em nossa casa quer comer "aquilo que todo mundo comia escondidinho".
Estamos na pizzaria, por decisão do meu pai que resolveu apresentar a iguaria italiana à Irene. Ela se esbaldou, lambuzou-se toda com a muzzarela quentinha a escorrer do garfo e riu à beça das córcegas que sentia ao solver o guaraná. Ao final, encantou-se com o sorvete. Parecia uma criança.
Fomos para casa e meu pai quis saber o quanto tinha agradado:
- Gostou, Irene?
- Muito! - voz grossa, quase masculina.
Silêncio e volta-se para meu pai:
- Mas fiquei com vontade de comer outra coisa.
- Por que não disse? O que era?
- Não sei o nome, por isso não falei.
- Conte-me como era.
Com uma das mãos em concha sobre a boca e o dedo indicado dentro da concha respondeu:
- Também não sei, todo mundo comia escondidinho, assim.
Difícil não rir e mais complicado explicar que o palito ninguém comia. Naquela época, palitos ainda eram usados em locais públicos com a finalidade de limpar os dentes.

Lição:

Quando contratamos uma secretaria do lar, trazemos uma nova realidade para nossos lares e quem tem filhos pode aproveitar ao máximo da situação para mostrar a eles as diferenças sociais do nosso mundo, além de orientá-los a respeitar as diferenças.