Minha primeira lembrança de empregada doméstica é da Irene, moça que minha mãe trouxe do interior para morar em nossa casa, ajudar nos afazeres domésticos e, de quebra, estudar. Além de todas as dificuldades que apresentava, a moça se achava muito esperta! Já dizia meu avô que o orgulho emburrece.
Minha mãe, pacientíssima, tentava ensinar as tarefas do nosso lar à moça. Casa velha, simples, comidinha básica (arroz, feijão, salada, verduras e couve), só não aprendia quem não quisesse. Meu pai, viajante que era, não vivenciava os deslizes da Irene, por isso achava que estávamos exagerando ao lhe contar as peripécias de cada semana.
Um dia, ele recorreu à funcionária para ter acesso ao Jornal do Brasil, sua leitura preferida. Deu-lhe o equivalente a R$ 50,00 hoje para que fosse à banca comprar o exemplar. Recomendou muito cuidado com o troco. Lá se foi a moça e cá ficou minha mãe repreendendo meu pai por permitir que ela saísse com tanto dinheiro.
Cerca de 40 minutos depois ela retornou. Quando apontou na esquina, eu e meu irmãos, molecotes ainda (os pré-adolescentes de hoje), percebemos que algo tinha dado muito errado. Ela carregava uma pilha de jornais na cabeça. Assim que adentrou na sala, jogou os jornais aos pés do meu pai e disse toda orgulhosa:
- Eu sei que vocês acham que sou boba, mas não sou. Ouvi o dono da banca comentar com outro cliente que o jornal vai subir de preço amanhã, então comprei todos que ele tinha para o senhor economizar!
Lição:
Explicar nos mínimos detalhes como as coisas funcionam não é exagero.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Hahaha!!
Você escreve muito bem! Até imaginei a cena, a pobre moça trazendo vários jornais para casa.
=]
É isso aí, explicar tudo nos mínimos detalhes. Outro dia fui tomar banho e disse à faxineira que se o telefone tocasse era para ela atender. Passu um tempinho, ela invade o banheiro com o telefone na mão. "É para você". "Mas eu não falei para você atender". "Eu atendi, e a moça quer falar com você".
Ana Paula
Postar um comentário