Minha primeira lembrança de empregada doméstica é da Irene, moça que minha mãe trouxe do interior para morar em nossa casa, ajudar nos afazeres domésticos e, de quebra, estudar. Além de todas as dificuldades que apresentava, a moça se achava muito esperta! Já dizia meu avô que o orgulho emburrece.
Minha mãe, pacientíssima, tentava ensinar as tarefas do nosso lar à moça. Casa velha, simples, comidinha básica (arroz, feijão, salada, verduras e couve), só não aprendia quem não quisesse. Meu pai, viajante que era, não vivenciava os deslizes da Irene, por isso achava que estávamos exagerando ao lhe contar as peripécias de cada semana.
Um dia, ele recorreu à funcionária para ter acesso ao Jornal do Brasil, sua leitura preferida. Deu-lhe o equivalente a R$ 50,00 hoje para que fosse à banca comprar o exemplar. Recomendou muito cuidado com o troco. Lá se foi a moça e cá ficou minha mãe repreendendo meu pai por permitir que ela saísse com tanto dinheiro.
Cerca de 40 minutos depois ela retornou. Quando apontou na esquina, eu e meu irmãos, molecotes ainda (os pré-adolescentes de hoje), percebemos que algo tinha dado muito errado. Ela carregava uma pilha de jornais na cabeça. Assim que adentrou na sala, jogou os jornais aos pés do meu pai e disse toda orgulhosa:
- Eu sei que vocês acham que sou boba, mas não sou. Ouvi o dono da banca comentar com outro cliente que o jornal vai subir de preço amanhã, então comprei todos que ele tinha para o senhor economizar!
Lição:
Explicar nos mínimos detalhes como as coisas funcionam não é exagero.
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Prato do dia: escondidinho
O nome parece feito sob medida para alguma iguaria que concorre ao Comida di Buteco. Se você não conhece Belo Horizonte, tenho que explicar que se trata de um festival gastronômico do qual só participam butequins da capital mineira. Além de agradar ao paladar dos jurados, o prato também deve ter nome criativo.
Mas, o caso em questão aconteceu muito antes do festival ser criado, para ser precisa há uns 15 anos e a 320 Km de Belo Horizonte. Lá em Governador Valadares, Irene, a moça que minha mãe trouxe do interior para trabalhar em nossa casa quer comer "aquilo que todo mundo comia escondidinho".
Estamos na pizzaria, por decisão do meu pai que resolveu apresentar a iguaria italiana à Irene. Ela se esbaldou, lambuzou-se toda com a muzzarela quentinha a escorrer do garfo e riu à beça das córcegas que sentia ao solver o guaraná. Ao final, encantou-se com o sorvete. Parecia uma criança.
Fomos para casa e meu pai quis saber o quanto tinha agradado:
- Gostou, Irene?
- Muito! - voz grossa, quase masculina.
Silêncio e volta-se para meu pai:
- Mas fiquei com vontade de comer outra coisa.
- Por que não disse? O que era?
- Não sei o nome, por isso não falei.
- Conte-me como era.
Com uma das mãos em concha sobre a boca e o dedo indicado dentro da concha respondeu:
- Também não sei, todo mundo comia escondidinho, assim.
Difícil não rir e mais complicado explicar que o palito ninguém comia. Naquela época, palitos ainda eram usados em locais públicos com a finalidade de limpar os dentes.
Lição:
Quando contratamos uma secretaria do lar, trazemos uma nova realidade para nossos lares e quem tem filhos pode aproveitar ao máximo da situação para mostrar a eles as diferenças sociais do nosso mundo, além de orientá-los a respeitar as diferenças.
Mas, o caso em questão aconteceu muito antes do festival ser criado, para ser precisa há uns 15 anos e a 320 Km de Belo Horizonte. Lá em Governador Valadares, Irene, a moça que minha mãe trouxe do interior para trabalhar em nossa casa quer comer "aquilo que todo mundo comia escondidinho".
Estamos na pizzaria, por decisão do meu pai que resolveu apresentar a iguaria italiana à Irene. Ela se esbaldou, lambuzou-se toda com a muzzarela quentinha a escorrer do garfo e riu à beça das córcegas que sentia ao solver o guaraná. Ao final, encantou-se com o sorvete. Parecia uma criança.
Fomos para casa e meu pai quis saber o quanto tinha agradado:
- Gostou, Irene?
- Muito! - voz grossa, quase masculina.
Silêncio e volta-se para meu pai:
- Mas fiquei com vontade de comer outra coisa.
- Por que não disse? O que era?
- Não sei o nome, por isso não falei.
- Conte-me como era.
Com uma das mãos em concha sobre a boca e o dedo indicado dentro da concha respondeu:
- Também não sei, todo mundo comia escondidinho, assim.
Difícil não rir e mais complicado explicar que o palito ninguém comia. Naquela época, palitos ainda eram usados em locais públicos com a finalidade de limpar os dentes.
Lição:
Quando contratamos uma secretaria do lar, trazemos uma nova realidade para nossos lares e quem tem filhos pode aproveitar ao máximo da situação para mostrar a eles as diferenças sociais do nosso mundo, além de orientá-los a respeitar as diferenças.
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